O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), chamou de “absurda” e “heterodoxa” a forma como o colega, Ricardo Lewandowski, atuou no Senado. Embora Gilmar não tenha feito referência direta ao episódio, Lewandowski conduziu o processo de impeachment contra presidente Dilma Rousseff no Senado. Recentemente, Gilmar já havia criticado o fato de Lewandowski ter autorizado que os senadores votassem pela cassação da presidente, sem que ela ficasse impedida de ocupar outros cargos públicos.
A discussão começou no julgamento de um processo sobre a legalidade de contribuição previdenciária sobre gratificações temporárias. Mesmo já tendo votado, Gilmar Mendes pediu vista do processo, adiando a conclusão do julgamento. Abaixo, a íntegra da discussão que ocorreu nesta quarta-feira, no plenário do STF.
Lewandowski – Pela ordem, o ministro Gilmar Mendes já não havia votado? Sua excelência está abrindo mão do voto já proferido? Data venia, é um pouco inusitado isso, mas…
Gilmar – Enquanto eu estiver aqui, eu posso fazê-lo.
Carmen Lúcia – Enquanto o resultado não estiver proclamado, o regimento permite…
Gilmar – Vossa excelência fez coisa mais heterodoxa.
Lewandowski – Eu, graças a Deus, não sigo o exemplo de vossa excelência em matéria de heterodoxia, viu? Graças a Deus. E faço disso um ponto de honra.
Gilmar – Vossa excelência fez coisa mais heterodoxa. Basta ver o que vossa excelência fez no Senado.
Lewandowski – No Senado? Basta ver o que vossa excelência faz diariamente nos jornais. É uma atitude absolutamente, ao meu ver, incompatível com…
Gilmar – Faço isso inclusive para poder reparar os absurdos que vossa excelência faz.
Lewandowski – Absurdos não, vossa excelência retire o que disse, por que isso não existe, vossa excelência está faltando com o decoro não é de hoje. E eu repilo qualquer… Vossa excelência por favor me esqueça!
Gilmar – Não retiro.
Lewandowski – Vossa excelência então se mantenha como está e eu afirmo que vossa excelência está faltando com o decoro que essa corte merece.
A presidente do tribunal, ministra Cármen Lúcia, retomou a sessão sem comentar a discussão, como se nada de diferente houvesse acontecido. Ela chamou logo o próximo processo a ser julgado, para tentar amenizar a situação.
O Globo