quarta-feira, 29 de março de 2017

Janot declara guerra a Gilmar Mendes e o acusa de 'decreptude moral' e de sofrer ‘disenteria verbal’


O caos institucional brasileiro atingiu novo patamar nesta quarta-feira 22, com a resposta do procurador-geral Rodrigo Janot, ao ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal. 

Um dia depois de Gilmar acusar Janot de vazar documentos da Lava Jato e pedir a anulação das delações, veio a resposta. O procurador-geral disse que Gilmar sofre de "disenteria verbal" e "decrepitude mental". Ele também o acusou de "fazer política em banquetes palacianos", numa referência aos constantes encontros entre Gilmar e Michel Temer, que é um dos personagens mais citados nas delações e tem nove ministros com pedidos de investigação. 

Sobre o pedido de anulação das delações da Odebrecht, Janot foi irônico. "Só posso atribuir tal ideia a mentes ociosas e dadas a devaneios", afirmou.

Janot foi apoiado pela força-tarefa da Lava Jato e o procurador Deltan Dallgnol disse que não faz sentido propor a anulação da delação da Odebrecht. Os pedidos de inquérito da lista de Janot, que atingem 83 políticos com foro privilegiado, já estão nas mãos do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, que deve levar cerca de dez dias para autorizar – ou não – os inquéritos.

"Não vi uma só palavra de quem teve uma disenteria verbal a se pronunciar sobre essa imputação do Palácio do Planalto, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal. Só posso atribuir tal ideia a mentes ociosas e dadas a devaneios. Mas, infelizmente, com meios para distorcer fatos e instrumentos legítimos de comunicação institucional" — disse Janot em discurso de encerramento de encontro de procuradores regionais eleitorais na Escola Superior do Ministério Público.

Janot não mencionou o nome de Mendes, mas fez uma série de referências que não deixam dúvidas sobre o alvo de suas críticas. As informações sobre a suposta coletiva foram divulgadas pela 'Folha de S. Paulo' no último domingo e replicadas por Mendes na tarde da última terça-feira no STF. Ao falar sobre o suposto vazamento dos nomes de políticos da lista de Janot, o jornal fez referências à prática do off no Palácio do Planalto, no Congresso Nacional e no STF.

Para Janot, o ministro preferiu direcionar os ataques ao Ministério Público e omitiu, de forma deliberada, as menções ao uso do off no Palácio, no Congresso e no STF.

Para o procurador-geral, a seletividade da crítica teria como propósito da deslegitimação das investigações sobre a corrupção no meio político.

Janot disse ainda que a informação de que houve uma coletiva para a divulgação de uma lista de políticos investigados é mentirosa.

O procurador-geral insinuou também que Mendes estaria tentando nivelar todas as autoridades, atribuindo aos procuradores conduta que, na prática, seria dele: chamar jornalistas para conversas reservadas e, com isso, divulgar informações sigilosas. Para o procurador-geral, o ministro estaria sofrendo de decreptude.

"Ainda assim, meus amigos, em projeção mental, alguns tentam nivelar todos a sua decreptude moral e para isso acusam-nos de condutas que lhes são próprias, socorrendo-se, não raras vezes, da aparente intangibilidade proporcionada pela posição que ocupam no Estado" — afirmou.

O procurador reprovou ainda suposta conduta promíscua de Mendes, que estaria participando com frequência de jantares no Palácio do Planalto. O ministro é presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), onde tramita processo sobre supostas irregularidades na prestação de contas da chama Dilma-Temer na campanha eleitoral de 2014.

"Procuramos nos distanciar dos banquetes palacianos. Fugimos dos círculos de comensais que cortejam desavergonhadamente o poder público e repudiamos a relação promíscua com a imprensa" — disse Janot.

VIZOOM JOÃO CÂMARA

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