Por Estadão Conteúdo
Os EUA fizeram na quinta-feira, 6, sua primeira ofensiva militar direta contra posições do governo Bashar Assad na Síria, em retaliação ao ataque com armas químicas que provocou a morte de cerca de 100 pessoas na terça-feira. O bombardeio contra pistas de pouso, aviões e centrais de abastecimento representa uma guinada na posição do governo de Donald Trump. Na semana passada, ele declarou que o afastamento do dirigente sírio havia deixado de ser uma prioridade para Washington.
O ataque também representa um contraste com a posição menos intervencionista defendida pelo presidente durante a campanha, quando repetiu que os EUA não poderiam ser a “polícia do mundo” e deveriam colocar questões domésticas em primeiro lugar. Na noite de quinta, Trump disse que combater o uso de armas químicas faz parte da defesa de “interesses de segurança nacional vitais” dos EUA. “Esse não foi um ataque pequeno”, afirmou o chefe do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, H.R. McMaster – 59 mísseis Tomahawk foram lançados contra a Síria.
O presidente disse que o alvo dos mísseis lançados pelos EUA foram pistas de pouso usadas pelos aviões que realizaram os ataques químicos de terça-feira. Esse mesmo tipo de ação havia sido defendido horas antes por Hillary Clinton, a democrata derrotada por Trump na eleição de novembro.
“Na noite de hoje, eu conclamo todas as nações civilizadas a se unirem a nós na busca de um fim da matança e do derramamento de sangue na Síria e também para acabar com o terrorista de todos os tipos e formas”, afirmou Trump. Segundo a Associated Press, a TV estatal síria noticiou o ataque contra vários alvos militares do país e o classificou de “agressão”.
Na tarde de quinta, Trump já havia dado indicações de que estava inclinado a agir. “Eu acho que o que Assad fez é terrível. Eu acho que o que aconteceu na Síria é um crime verdadeiramente grave. Isso não deveria ter acontecido”, afirmou o presidente em entrevista a bordo do Air Force One a caminho da Flórida, onde recebeu o presidente da China, Xi Jinping. “Eu acho que o que aconteceu na Síria é uma desgraça para a humanidade. Ele (Assad) está lá, e acredito que ele no comando, portanto alguma coisa tem de acontecer.”
Parlamentares republicanos e democratas elogiaram a decisão de agir contra Assad. “Essa ação na Síria foi apropriada e justa”, declarou o presidente da Câmara dos Deputados, Paul Ryan. O líder do Partido Democrata no Senado, Chuck Schumer, elogiou o profissionalismo dos militares que conduziram a operação. “Assegurar que Assad saiba que quando comete atrocidades abjetas como essa ele pagará um preço é a coisa certa a fazer.”
Guinada. O ataque químico também parece ter provocado uma mudança de posição de Trump em relação à Rússia, principal aliada do regime sírio. Durante a campanha e depois de sua posse, o presidente manifestou o desejo de cooperar com Vladimir Putin e o próprio Assad no combate ao terrorismo.
“Claramente, a Rússia fracassou em suas responsabilidades. Ou a Rússia foi cúmplice ou foi simplesmente incompetente em sua habilidade de cumprir sua parte do acordo”, disse Tillerson, em relação à negociação coordenada por Moscou em 2013 depois de outro ataque químico que deixou quase 1.500 mortos.
Na época, Assad se comprometeu a entregar todo o seu arsenal de armas químicas à comunidade internacional. No início da madrugada, o Pentágono afirmou que as forças russas no território sírio foram alertadas com antecedência sobre o ataque. A base atacada era compartilhada por tropas sírias e russas. Logo após a operação, não havia informação sobre feridos ou mortos.
A ofensiva de quinta contrasta com a posição adotada pelo ex-presidente Barack Obama naquela época, quando ameaçou atacar a Síria e voltou atrás depois do acordo fechado por Moscou. Meses antes, ele havia dito que esse tipo de ação por parte do regime sírio cruzaria uma “linha vermelha” e teria resposta dos EUA.
Na terça-feira, a Casa Branca responsabilizou Obama pelas ações de Assad. “O ataque químico de hoje (terça-feira) na Síria contra pessoas inocentes, incluindo mulheres e crianças, é lamentável e não poder ser ignorado pelo mundo civilizado”, disse o porta-voz do presidente, Sean Spicer.