Mesmo diante da permanência do PSDB no governo de Michel Temer (PMDB), condicionada pelo partido ao surgimento de fatos novos que aprofundem a crise política, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso entende que falta “legitimidade” ao presidente e sugere que, em um “gesto de grandeza”, o peemedebista antecipe as eleições gerais, previstas para outubro de 2018.
As posições do tucano, contrárias à decisão tomada pelos demais caciques do partido, estão expostas em uma nota publicada nesta quinta-feira pelos jornais O Globo e Folha de S. Paulo e pela Agência Lupa. Para FHC, embora a permanência de Temer no Planalto seja “legal e constitucional”, o país vive uma “quase anomia”, isto é, um estado de ausência de regras, e “falta o que os políticólogos chamam de ‘legitimidade’, ou seja, reconhecendo que a autoridade é legítima consentir em obedecer”.
“Não havendo aceitação generalizada de sua validade, ou há um gesto de grandeza por parte de quem legalmente detém o poder pedindo antecipação de eleições gerais, ou o poder se erode de tal forma que as ruas pedirão a ruptura da regra vigente exigindo antecipação do voto”, afirma o ex-presidente.
O tucano entende que os partidos devem levar em conta as “chances econômicas” do Brasil e “os 14 milhões de desempregados” ao se posicionarem diante da crise política. “Ou se pensa nos passos seguintes em termos nacionais e não partidários nem personalistas ou iremos às cegas para o desconhecido”, completa FHC.
Ao citar especificamente o PSDB, FHC diz que caso continue a “desconstrução continuada da autoridade” do presidente, aliada a possíveis tentativas de obstrução de Justiça, não vê como o partido possa continuar no governo Temer.
Em referência à declaração que deu no ano passado – de que a “Ponte para o Futuro”, slogan que Temer e PMDB deram ao governo, era na verdade, uma “pinguela” -, FHC afirma que “preferiria atravessar a pinguela, mas se ela continuar quebrando será melhor atravessar o rio a nado e devolver a legitimação da ordem à soberania popular”.
O ex-presidente pondera, contudo, que a maior responsabilidade não cabe às legendas, mas a Temer, “que decidirá se ainda tem forças para resistir e atuar em prol do país”.