terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Poder de facções “estica” série de atentados e surpreende autoridades no CE

AFP PHOTO / O POVO / ALEX GOMES
Carlo Madeiro, Colaboração para o UOL, em Maceio

O reforço policial, a transferência de líderes de ataques e a prisão de 403 suspeitos até esta segunda-feira (21) não foram capazes de cessar a onda de atentados que aterroriza o Ceará desde o dia 2 com mais de 200 ocorrências já registradas entre incêndios e explosões a viadutos, torres de transmissão, veículos e prédios públicos e privados.
UOL apurou que o poder prolongado de fogo das facções está causando surpresa às autoridades locais e federais. Especialistas ouvidos confirmam que a força dos grupos foi subestimada –o que faz com que a onda de violência se estenda por um período maior que o esperado, mesmo com o reforço de 700 policiais da Força Nacional, de outros estados e da reserva da PM (Polícia Militar) do Ceará em operações.
Segundo uma fonte do governo, a estimativa máxima inicial era que os ataques cederiam em até uma semana, especialmente após a chegada da Força Nacional. “Nenhuma outra série de ataques, nem aqui, nem no país, durou tanto tempo. Mesmo caindo em número, há surpresa da atuação prolongada”, disse o investigador ouvido sob sigilo de identidade. Essa é quarta série de atentados que o estado enfrenta desde 2016.

O coordenador do LEV (Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará), sociólogo César Barreira, confirma que a percepção do poder das facções cresceu no estado com essa onda de atentados. “Elas estão muito fortes, e foi novidade essa questão. Fomos pegos um pouco de surpresa”, afirma. “Houve uma provável aliança entre elas, que passaram a ter o estado como alvo. Por isso há uma continuidade de ações.”
No Ceará, três facções dominam o tráfico de drogas e lutam por domínio de bairros e presídios: PCC (Primeiro Comando da Capital), CV (Comando Vermelho) e GDE (Guardiões do Estado). Além deles, há ainda presos faccionados à Família do Norte, mas em menor número e sem atuação mapeada fora dos presídios. Elas fizeram um acordo de paz para atacarem o estado, que anunciou medidas disciplinadoras em presídios.
Barreira diz que vê acertos do governo do estado no enfrentamento do poder paralelo dos grupos nas penitenciárias (que gerou os ataques) e em resposta à onda de ataque. “O estado, em princípio, montou um esquema que acho correto. O que ele fez em termos de pronunciamento, de não recuar, de manter essa divisão das facções dos presídios, foi correto”, afirma.
O conselheiro penitenciário do Estado do Ceará, o criminalista Cláudio Justa, admite que o poder das facções foi subestimado pelo estado. “Os espaços prisionais são muito estratégicos para as facções, elas não querem perdê-los. Infelizmente, o problema do poder das facções no estado era bem maior que o estimado pelas autoridades”, afirma.

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