Faltou muita gente na foto, é verdade, mas os registros já garantem alguns encontros impensáveis, quase improváveis. Só de ver William Bonner e Cid Moreira juntos, bem ao lado de Fátima Bernardes, Renata Vasconcellos, Sérgio Chapelin, Patrícia Poeta e Alice-Maria, já é um afago para quem, como esta jornalista, zela pela memória da televisão brasileira.
Alice-Maria era o braço forte de Armando Nogueira, diretor de jornalismo da Globo naquele setembro de 1969, quando o JN decolou, até 1989, quando se demitiu, logo após a famosa edição do debate final entre Lula e Collor para a eleição presidencial.
A edição foi assumidamente realizada por Alberico de Souza Cruz, subalterno de Nogueira, que, diante da saída do chefe, assumiu o posto. Por bons anos, Alberico serviu aos Marinhos como homem forte do jornalismo da Globo, até se substituído, em 1995, por Evandro Carlos de Andrade, vindo do jornal da família, O Globo.
Foi Evandro quem peitou a troca dos locutores Cid Moreira e Sérgio Chapelin por dois jornalistas, Bonner e Lillian Witte Fibe, primeira titular do Jornal Nacional (que não foi ao encontro). Evandro morreu em junho de 2001. Nogueira se foi em 2010.
Alberico também esteve na celebração da noite deste domingo (1).
Faltou também Celso de Freitas, que apresentou o JN com Cid Moreira entre 1983 e 1989, enquanto Chapelin esteve no SBT. Hoje titular do Jornal da Record, onde vez ou outra noticia manchetes contrárias à família Marinho e ao Grupo Globo, Freitas não foi convidado.
Responsável pela concepção de rede que se tinha em 69, graças a um período passado nos Estados Unidos, de onde vinha o sonho de fazer uma televisão coast to coast (aqui dita de norte a sul), Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho) também não estava na celebração.
Há dez dias, procurei Boni, pilar essencial na construção da hegemonia da Globo, para confirmar se o JN foi de fato o primeiro programa de TV em rede feito no Brasil. A informação serviria a um texto de análise para a Ilustrada, da Folha, e ele me respondeu o seguinte:
“O JN só foi possível com a inauguração da rede de micro ondas da Embratel então empresa estatal. No início, devido às custas altas da rede, somente o JN era ao vivo. Mas em 70 também atualizamos as novelas. O modelo JN veio da TV dos Estados Unidos. Uma curiosidade: assim que a rede foi inaugurada, um grupo da Globo almoçava e discutíamos a viabilidade do JN. O problema era o custo. O diretor comercial, Ulisses Arce, levantou- se e disse: ‘Eu banco. Vendo amanhã’ . E vendeu. Walter [Clark, diretor-geral da Globo na época] e Arce queriam um jornal com a entrada de locutores de diversas praças. O Armando Nogueira e eu discordamos. O Walter achava que o Armando era contra. Mas, afinal o nosso formato venceu. O conceito do JN foi definido por mim, Armando e Alice-Maria. E eu escolhi o horário para brigar com o Repórter Esso.”
Na noite deste domingo, João Roberto Marinho, presidente do Conselho Editorial do grupo, comemorou a ocasião, lembrando que o JN foi o grande sonho realizado de seu pai, Roberto Marinho.
“Muito bom comemorar com essa equipe os 50 anos do JN, que foi a realização de um sonho do meu pai: um jornal capaz de reunir o país e levar informação de qualidade para os brasileiros”, disse ele, segundo comunicado distribuído pela Globo que aqui reproduzimos. “Parabéns pelo que fizemos e pelo que ainda vamos fazer.”
Atual diretor de jornalismo da casa, Ali Kamel completou: “Gostaria de dizer, em nome de todos, que reconhecemos que só podemos fazer o jornalismo que fazemos graças à independência que a família Marinho tão corajosamente nos garante. E agradecer por isso”.
Além de diretores de jornalismo da Globo, executivos, e profissionais de bastidores, também estiveram presentes na comemoração nomes como Sandra Annenberg, Glória Maria, Maju Coutinho, César Tralli, Léo Batista, Dulcineia Novaes, Chico Pinheiro, Zileide Silva, Caco Barcellos, Sonia Bridi, Ernesto Paglia e Renato Machado.
Marluce Dias da Silva, que sucedeu Boni no comando geral da Globo, tendo passado pouco tempo no cargo, esteve presente.