Depois de participar de uma manifestação de apoio ao isolamento vertical, e que também pediu o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal, o presidente Jair Bolsonaro usou a internet para continuar os ataques ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), na noite deste domingo, 19.
Ele fez uma transmissão ao vivo, em que aparece assistindo a uma entrevista do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) para jornalistas e blogs de direita. Na entrevista, Jefferson, que delatou o esquema do Mensalão e foi condenado a sete anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, diz que Maia fez um acordo com a esquerda para aprovar o impeachment do presidente.
Desde que a crise do coronavírus estourou, ao menos três pedidos de impeachment contra Bolsonaro foram apresentados na Câmara dos Deputados. Como presidente da Casa, cabe a Maia aceitar ou negar os procedimentos. Por enquanto, ele não deu nenhum sinal de que pretende levar os processos adiante. Em 17 de março, o parlamentar disse, em entrevista ao Valor, que o Congresso não deveria com um procedimento que pode aumentar a crise, como um processo de impeachment.
Na quinta-feira, 16, o presidente atacou Maia, ao dizer em entrevista à CNN que acha que a intenção do parlamentar é tirá-lo da Presidência. Em reação às críticas, Maia disse que não entraria numa disputa pública com Bolsonaro: “O presidente não vai ter ataques (de minha parte). Ele joga pedras e o Parlamento vai jogar flores”, completou.
Segundo Jefferson, que hoje preside o PTB, o “golpe” de Maia tem duas partes. A primeira é realizar o impeachment, que ocorreria após perda de governabilidade do presidente. A segunda parte seria mudar a legislação para permitir que Maia se reeleja como presidente da Câmara. O mandato de Maia termina em 31 de janeiro de 2021, e ele não pode mais se reeleger. “Ele troca, com a esquerda, o impeachment pela reeleição. Ele dá à esquerda a admissibilidade do pedido de impeachment e depois eles votam a reeleição de Maia como presidente da Câmara”, disse Jefferson, na entrevista compartilhada por Bolsonaro.
Segundo Jefferson, Bolsonaro se negou a fazer um governo de “toma lá, dá cá” e por isso haveria uma “crise de abstinência” pela corrupção. O ex-parlamentar tem caído nas graças de aliados de Bolsonaro. Uma publicação de Jeffferson foi compartilhada por um dos filhos de presidente, o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (Republicanos), neste domingo.
Na entrevista, feita pelo grupo bolsonarista República de Curitiba, Jefferson também fala sobre a entrevista concedida pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao Estado publicada nesse domingo, na qual o tucano afirma que o Brasil vive hoje um parlamentarismo branco e que há um governo compartilhado entre STF e Congresso. O grupo República de Curitiba era um dos que estavam por trás da convocação para ato de 15 de março que também pediu o fechamento do Supremo e do Congresso, como fizeram as manifestações deste domingo.
Jefferson ficou conhecido nacionalmente após delatar o esquema de compra de votos no Congresso Nacional no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, batizado pelo próprio Jefferson de “mensalão”.
ESTADÃO CONTEÚDO