São falsos os conteúdos que estão viralizando nas redes sociais e aplicativos de mensagem –e já ganharam vida– sobre os termômetros digitais, que medem a temperatura na testa. Por causa da pandemia, alguns municípios exigem que estabelecimentos comerciais façam a aferição nos clientes.
Em um dos vídeos que circulam no WhatsApp, com uma ilustração estática de um cérebro humano, uma voz masculina afirma que as pessoas devem pedir que suas temperaturas sejam medidas no pulso. Segundo o locutor, “aquilo ali é um raio infravermelho e atinge a glândula pineal”, uma pequena glândula no cérebro dos vertebrados, e “pode causar, com o tempo, vários distúrbios na glândula e trazer consequências seríssimas”.
No Twitter, o advogado criminalista Augusto de Arruda de Botelho contou ter ouvido conversa semelhante. Ele estava na padaria quando um senhor pediu que o segurança não colocasse o termômetro em sua testa porque a radiação causaria câncer. Em seguida, duas senhoras disseram que isso era verdade, pois haviam recebido a informação no WhatsApp.
Leonardo Weissmann, infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, é categórico ao afirmar que “não há qualquer evidência científica para afirmações como essas”. De acordo com ele, “começou-se a verificar a temperatura no punho por medo, após a divulgação de fake news nas redes sociais”.
Segundo Diogo Haddad, neurologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, “as pessoas irradiam calor corporal na forma de luz infravermelha e o que os termômetros fazem, em grande parte, é detectar o quanto elas emitem de calor, e não soltar uma radiação”. Ele explica que a luz vermelha que sai do aparelho serve a para ajudar a apontá-lo corretamente.
Sobre o raio de luz atingir a glândula pineal, Raquel Stucchi, infectologista da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), afirma que “essa glândula fica no meio do cérebro e, se o raio a atingisse, queimaria os vasos e as artérias do pulso”.
O neurologista Haddad complementa que “isso é uma grande besteira”. “A funcionalidade do instrumento é associada à medição na testa e a gente não tem certeza de que ela seja fidedigna quando feita no pulso”, diz ele, que conta não haver estudos sobre a utilização no punho.
Na cidade de São Paulo, a aferição da temperatura é uma das obrigações do estabelecimento, segundo portarias publicadas pela prefeitura. O proprietário pode impedir a entrada do cliente que se negar a usar o termômetro, já que corre o risco de ter o comércio fechado se não cumprir o protocolo.
Embora a medição da temperatura esteja sendo feita em várias cidades brasileiras –a decisão cabe às autoridades locais–, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) informou, por e-mail, que “não tem orientação específica para o uso e triagem com termômetros na entrada de supermercados, repartições e outros espaços públicos” e que os instrumentos “não fazem o diagnóstico do tipo de doença, uma vez que apenas medem a temperatura corporal do paciente”.
É o mesmo posicionamento da OMS (Organização Mundial da Saúde), segundo qual a medição não consegue concluir se a pessoa está infectada com o novo coronavírus ou não. “Os termômetros são efetivos para detectar quem tem febre” e há diversas causas que podem levar à elevação da temperatura corporal, informa o site do órgão.
FolhaPress