“Fui dormir, ainda estava andando. Acordei sem mexer as pernas”. O relato é do instalador elétrico Jonathan Jekabson, de 42 anos, que ficou paraplégico da noite para o dia. Desenganado pelos médicos, o morador de Praia Grande, no litoral de São Paulo, não perdeu a esperança e conseguiu realizar o sonho de voltar a caminhar com as próprias pernas, após quase cinco anos.
Ele conta que, desde os 15 anos, já sentia dor na lombar, proveniente de uma possível escoliose. Na época, ele ia ao médico, mas, após ser medicado, era liberado. Até que parou de andar, literalmente, do dia para a noite. Jonathan afirma que, quando foi dormir, em uma sexta-feira, ainda caminhava, no entanto, ao acordar, já não tinha mais os movimento das pernas.
“Foram vários fatores, não fui atropelado, não caí de moto. Era muito forte, carregava muito peso. Trabalho com instalações elétricas, subo muito em telhado, prédio e casa. Por três vezes, no decorrer desse período todo, eu caí de telhados em pé. A reação de espanto e de falta de entendimento se dá por não ter uma causa aparente”, desabafa.
Naquela manhã de sábado, ele foi a um hospital de Praia Grande, onde passou por exames e foi constatado que ele havia desenvolvido uma hérnia de disco, que acabou comprimindo sua medula em três lugares
A hérnia
O fisioterapeuta Eduardo Santana Cordeiro, amigo de infância de Jonathan, explica que, quando há lesão medular, é comum o paciente perder os movimentos, mas depende da área afetada na coluna. “Por exemplo, se for na cervical, ele pode perder o movimento dos quatro membros”, afirma.
No entanto, ele conta que não é comum perder os movimentos por conta de uma hérnia de disco. “Normalmente, isso está relacionado a um trauma, uma lesão traumática maior, direta ou indiretamente. Por exemplo, a pessoa pode ter caído ou sofrido um acidente de carro, algo mais sério que pode levar a isso”, complementa. No caso do instalador, uma das quedas de telhado ocasionou a uma hérnia de disco traumática.
O início da luta
“O médico me condenou, disse que eu ia ficar paraplégico”. O diagnóstico, porém, não foi aceito por Jonathan, que afirmou ao profissional que não sairia da unidade naquele estado. “Fiquei por dois dias no hospital, até que um outro médico me transferiu para outro hospital, em Santos. Conheci outro médico, que me deu uma sobrevida”. O instalador passou por uma cirurgia, que fez com que a compressão na medula fosse aliviada e que os órgãos funcionassem bem, apesar de sua atual condição.
“Ele falou que não era para voltar a andar, era para ter qualidade de vida”, relembra. No procedimento, foram colocados dez pinos de titânio, dois varões e um articulador, em três vértebras. “Essas vértebras não têm mais cartilagem, foram fixadas entre si para abrir o canal da medula e diminuir a pressão medular”, explica.
Jonathan saiu do hospital desenganado pelos médicos, no entanto, não se contentou com a ideia de viver em uma cadeira de rodas para sempre. Centenas de sessões de fisioterapia e muita determinação foram necessárias para que, ao longo de cinco anos, ele conseguisse sair da cadeira e pudesse caminhar com a ajuda de um andador, depois de muleta e, por último, uma bengala, que é usada de vez em quando.
“Um doido que anda”
“O fisioterapeuta que me acompanhou durante metade do tratamento se surpreendia a cada etapa de superação. Foi um processo bem longo, e tudo por minha crença. Ninguém me deu uma esperança, ninguém chegou para mim e falou ‘vai na fé que você vai andar’”, relata.
“Toda vez que eu chegava no fisioterapeuta com outro equipamento, ele me perguntava quem me mandou fazer aquilo. Sempre dizia que ninguém mandava em mim, e que as pessoas não iam me limitar. ‘Você é doido’, ele falava. Eu respondia: ‘Posso ser doido, mas vou ser um doido que anda’”, conta em meio a risos.
Após a recuperação, ele voltou a trabalhar em telhados e até levou o filho mais velho, que herdou a paixão do pai por instalações elétricas. Além disso, Jonathan teve mais um filho, que considera um presente para fechar o ciclo de desafios. “É a melhor parte de tudo isso que eu vivi”, revela.
“A história é bonita, mas os bastidores são tristes, cheios de muito sofrimento. A gente alcançou o resultado que queria, isso torna ela bonita e satisfatória até para a gente. Eu tenho a felicidade de estar vivo, de voltar a ser útil, de voltar a ser independente, porque muitos não voltam. Isso é o que mais pesa para um deficiente”, finaliza.
G1