Um prefeito, uma secretária de saúde e até um fotógrafo oficial de cidades do interior de Sergipe e de Pernambuco furaram a fila de vacinação da Covid-19 na manhã desta terça-feira (19). Eles não fazem parte do grupo prioritário, que engloba profissionais de saúde da linha de frente, indígenas aldeados e pessoas com deficiência que vivem em instituições inclusivas.
Na cidade de Itabi (SE), durante evento para marcar o início da campanha de imunização, o prefeito Júnior de Amynthas (DEM) foi o primeiro a tomar a vacina. A justificativa, segundo nota oficial da Secretaria de Saúde, foi a de incentivar a população a aderir à campanha de vacinação.
Segundo o comunicado, informe técnico do Ministério da Saúde faculta a estados e municípios a possibilidade de adequar priorização conforme a realidade local. “É a razão pela qual o prefeito Júnior de Amynthas foi imunizado, em um ato de demonstração de segurança, legitimidade e eficácia da vacina para incentivar a população Itabiense a se vacinar”, diz.
Na cidade de Jupi (PE), segurando a mão da secretária municipal de Saúde da cidade, Maria Nadir Ferro, o fotógrafo oficial da prefeitura, conhecido como Guilherme JG, comemorou a chegada das doses no momento em que foi vacinado.
O vídeo com o momento da vacinação foi postado nas redes sociais. “Aqui, olha, Jupi recebendo as primeiras doses”, diz ele, com a máquina fotográfica pendurada no pescoço.
A Folha tentou entrar em contato com o fotógrafo, mas não obteve resposta. “Folha de S. Paulo? Oxe. Quero falar não”, disse ao atender o telefone.
O profissional falou para a Rádio Jornal de Pernambuco, fora do ar, que se arrependia pelo ato e que não teria coragem de tomar de novo porque é uma falta de empatia.
Em seguida, segundo relatos da repórter da rádio, ele negou ter tomado a dose e pediu para que o assunto fosse esquecido.
O Ministério Público de Pernambuco (MP/PE) instaurou procedimento administrativo para investigar o caso.
Minutos antes de ser vacinado, ele tinha fotografado a secretária de Saúde também recebendo a dose.
Só podem tomar a vacina neste primeiro momento, de acordo com a pactuação feita entre estado e municípios, conforme estabelecido pelo Plano Nacional de Imunização, trabalhadores da saúde que estão na linha de frente.
O secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, por exemplo, não foi vacinado por não fazer parte do grupo prioritário.
A promotora de Justiça Adna Vasconcelos informou que encaminhou ofício para a Prefeitura de Jupi pedindo esclarecimentos sobre o que ocorreu.
“Ele [o fotógrafo] vai ser notificado também para prestar esclarecimentos. Vamos ouvir também quem autorizou a vacinação e quem aplicou a vacina”, disse a promotora.
De acordo com ela, a partir das informações colhidas, será possível saber se houve conduta criminal ou no âmbito administrativo de improbidade, no caso de o servidor ter atuado com dolo.
Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde disse que acionou o MP/PE e a SDS (Secretaria de Defesa Social) para que o caso fosse investigado.
A SES disse esperar que os responsáveis sejam punidos se for confirmada a imunização fora do grupo prioritário, com desvio de finalidade.
Jupi recebeu da SES 136 doses da Coronavac para a imunização completa de 68 profissionais de saúde que atuam na cidade.
“Esse quantitativo de profissionais representa cerca de um terço dos trabalhadores de saúde do município. Os outros profissionais serão contemplados assim que houver mais entregas pelo Ministério da Saúde”, comunicou.
A Prefeitura e a Secretaria de Saúde de Jupi não se manifestaram sobre o assunto.
FolhaPress