Primeira mulher a ser presidente na Fiocruz, cargo que ocupa desde 2017, Nísia Trindade Lima também será a primeira mulher a chefiar o Ministério da Saúde a partir de janeiro de 2023. O anúncio foi feito nesta quinta-feira (22/12) pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva em Brasília.
“Tem muita coisa para acontecer em cada ministério. Cada companheiro tem que montar sua equipe. É importante que essa equipe atenda às pessoas mais competentes, às pessoas comprometidas com nosso projeto e às pessoas que participaram dessa vitória, que não foi apenas o PT, mas vários partidos políticos”, declarou Lula. “Espero que todos ganhem, mas nossa prioridade é cuidar do povo mais pobre, do povo trabalhador, do povo mais necessitado”.
“A prioridade é usar todo o potencial do [Sistema Único de Saúde] SUS, com os seus serviços próprios, a área que envolve os hospitais filantrópicos, que respondem a 50% das internações do SUS, e também o setor privado para um grande esforço no sentido de colocarmos critérios, indicarmos e sinalizarmos os encaminhamentos de prioridade para a regulação, dando transparência a esse processo”, afirmou a futura ministra da Saúde, Nísia Trindade Lima.
“Esse já é um esforço que estamos trabalhando e tem muitos elementos na transição para nos ajudar nesse sentido. Também pensamos em mutirões em áreas de vazios assistenciais; esse é o foco prioritário, como o própro presidente Lula vem falando”.
Ao lado de outros pesquisadores, especialistas e ex-ministros, Nísia Trindade Lima integrou o Grupo Técnico da Saúde no governo de transição. Graduada em Ciências Sociais e com doutorado em Sociologia, Nísia Trindade Lima tem sua obra intelectual como referência na área de pensamento social brasileiro, história das ciências e saúde pública. É pesquisadora da Fiocruz desde 1987 e ocupou os cargos de diretora da Casa de Oswaldo Cruz (1998-2005), unidade da Fiocruz, e vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz (2011-2016).
Como presidente da Fundação, Nísia liderou as ações da Fiocruz no enfrentamento da pandemia, como a criação de um novo Centro Hospitalar no campus de Manguinhos; o aumento da capacidade nacional de produção de kits de diagnóstico e processamento de resultados de testagens; promoção de iniciativas junto a populações vulneráveis; criação do Observatório Covid-19 e da Rede Fiocruz de Vigilância Genômica; e inauguração do Biobanco Covid-19 (BC19-Fiocruz). Em sua gestão, a Fiocruz tornou-se referência para a Organização Mundial da Saúde (OMS) nas Américas para o diagnóstico de Covid-19.
No campo das vacinas contra a Covid-19, Nísia coordenou o acordo da Fiocruz de encomenda tecnológica. Com a conclusão da transferência de tecnologia da AstraZeneca, a Fiocruz tornou-se a primeira instituição do Brasil a produzir uma vacina contra a Covid-19 de forma 100% nacional. A Fundação já forneceu ao Ministério da Saúde mais de 200 milhões de doses de vacinas contra Covid-19 e foi selecionada pela Opas/OMS como centro regional de vacinas de mRNA, ainda em desenvolvimento.
Uma marca de sua trajetória na instituição tem sido o trabalho interdisciplinar em acordos de cooperação internacional. Coordena a Rede Zika Ciências Sociais, parte da Zika Alliance Network (2018); foi membro do grupo de trabalho de Plano de Ação Global da OMS (2018); do grupo consultivo da OMS para a implementação da Agenda 2030 (2019); entre outros. Durante a pandemia de Covid-19, também participou de diversos fóruns de cooperação transnacional e co-presidiu o Grupo Diretor de Recuperação Econômica, um dos grupos do Roteiro de Pesquisa da ONU para a Recuperação da Covid-19.
Em dezembro de 2020, foi eleita membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) na categoria Ciências Sociais e, em setembro de 2021, tornou-se membro independente do Conselho da Coalizão de Inovações em Preparação para Epidemias (Cepi), tendo recebido diversos prêmios ao longo dos últimos anos pelo reconhecimento de seu trabalho.