Dados do Conselho Federal de Medicina (CFM) apontam que o interior Rio Grande do Norte tem uma proporção de médicos quase três vezes menor que a média nacional. No País, há 2,81 médicos para cada mil habitantes, enquanto que no interior do Estado há 0,97 médicos para cada mil pessoas. O cenário é diferente quando se observa a capital do Estado. Natal tem 7,31 médicos para cada mil pessoas, bem acima da média nacional. Os números mostram a dificuldade para oferecer assistência à saúde adequada em regiões com pouca estrutura, como é o caso do interior do RN. De acordo com o Conselho Regional de Medicina do RN (Cremern) 70% do quantitativo médico se concentra em Natal, enquanto 30% está distribuído nos outros 166 municípios.
Com o déficit de profissionais, cidades fora da capital enfrentam dificuldades para oferecer assistência à saúde para os seus habitantes. A situação, segundo Geraldo Ferreira, é consequência da falta de recursos nas unidades de saúde e questões salariais. Ele apontou a ausência de itens como ultrassonografia e aparelhos de raio-x, bem como o não oferecimento planos de carreira para os profisionais. “Isso dificulta a atuação dos profissionais de saúde. Além disso, os médicos não possuem uma carreira que os permita começar pelo interior e ter a chance de progredir para cidades maiores. Se você faz um concurso para um determinado município, o concurso não prevê a possibilidade do médico ascender profissionalmente”, afirmou.
Quanto à maior concentração de médicos em Natal, o presidente do Sinmed citou também o oferecimento de uma variedade maior nas ofertas de atuação profissional. Essas possibilidades impactam na remuneração, que gera a fixação do médico num local. “Além do salário oferecido na rede municipal e estadual, também há a possibilidade do exercício profissional por meio de planos de saúde e consultórios. Ou seja, existe mais possibilidade de se agregar ganhos. As cidades pequenas carecem muito disso”, disse. Ele ressaltou, porém, que médicos especialistas (aqueles que possuem uma formação adicional em uma determinada área de estudo da Medicina) têm encontrado oportunidades em cidades de médio porte, por meio de vagas em empresas fornecedoras de planos de saúde.
Mesmo em cidades da Região Metropolitana, o déficit de médicos é um problema presente. O presidente do Sinmed contou que, durante visita a São Gonçalo do Amarante nesta semana, conferiu que os centros ambulatórios possuem dificuldades para atrair médicos. “Dos 50 médicos que trabalham por lá, 43 estão sobre o regime de contratos temporários. O médico não fica satisfeito com esses contratos temporários ou terceirizados, porque eles não conseguem segurança nenhuma. Para você se fixar em cidade, é necessário ter um horizonte lá”, relatou.
Além do Sinmed RN, o Conselho Federal de Medicina (CFM) e o Conselho Regional de Medicina do RN (Cremern) apontam outra problemática para a qualidados serviços médicos. O CFM se posicionou contra a quantidade elevada de cursos de medicina que estão sendo ofertados no país. De acordo com o presidente do Cremern, Marcos Jácome, a opinião do conselho estadual converge no mesmo sentido, devido a análise de que as instituições privadas não possuem capacidade suficiente de formar novos profissionais. “O que é que está se percebendo pelo Conselho Federal e conselhos regionais? Que a qualidade dessas unidades novas, principalmente as privadas, não contribui para uma boa formação desses médicos. Então não adianta ter grande quantidade de médicos, com pouca qualidade, porque a assistência pode ser até um risco para a nossa população”, afirmou.