Carne de cavalo acrescentada à carne bovina moída, xarope de milho diluído no mel, sumo “100% maçã” feito com água, açúcar e corantes. Essas são algumas das muitas fraudes em alimentos praticadas ao redor do mundo, segundo um estudo publicado no Journal of Food Protection que analisou milhares de ocorrências e identificou os produtos mais afetados por esses truques globalmente.
Os achados foram compilados por pesquisadores da FoodChain ID, empresa que realiza testes e verificação da cadeia de suprimentos, de companhias norte-americanas e do Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil.
O levantamento considerou mais de 15 mil registros públicos sobre fraudes alimentares, como publicações científicas e notícias, publicados entre 1980 e 2022. Com isso, os pesquisadores descobriram que os seguintes produtos são os mais adulterados:
Leite de vaca
Azeite de oliva extra virgem
Mel
Carne bovina
Pimenta em pó
Pó de cúrcuma
Leite de vaca em pó
Vodka
Ghee (manteiga clarificada)
Suco de laranja
Além desses, foram listados outros 11 itens, incluindo vinho, uísque, licor, carne de frango, açafrão e diferentes tipos de azeite e óleos.
Os pesquisadores classificaram a diluição ou substituição de ingredientes como a principal fraude, incluindo a troca por substâncias não aprovadas para uso em alimentos – 46% dos adulterantes identificados foram classificados como potencialmente perigosos para a saúde humana. A porcentagem de registros com pelo menos um adulterante perigoso variou de 34% a 60%.
Dentre as trocas, os cientistas identificaram ocorrências como:Água, ureia e até detergente adicionados a produtos lácteos;
Frutos do mar vendidos como sendo de algumas espécies, mas pertencentes a outras ou com adição de gelatina;
Carne bovina vencida ou misturada com carne de outras espécies proteína de soja ou vísceras;
Ervas e temperos com corantes artificiais, folhas, cascas e farinha de milho;
Bebidas alcoólicas com adição de álcool isopropílico (de uso industrial);
Azeite de oliva misturado com outros óleos mais baratos, como de girassol.
Como se proteger de uma fraude alimentar?
Fraude alimentar é o ato de enganar o consumidor para obter ganhos econômicos por meio da substituição, adição ou falsificação de alimentos, além de rotulagem incorreta.
Segundo especialistas consultados pelo Estadão, não há ferramentas específicas para o consumidor detectar as fraudes – a identificação demanda investigações técnicas e laboratoriais – e a proteção depende essencialmente das boas políticas de vigilância sanitária e do trabalho dos órgãos de defesa do consumidor.
Algumas estratégias, contudo, podem ajudar. Desconfie de produtos com preços muito baixos; tenha cuidado ao comprar alimentos sem rótulos e a granel, pois podem escapar do controle de órgãos reguladores; e busque conhecer os fornecedores, ensina a bióloga Maria Aparecida Moraes Marciano, pesquisadora do Centro de Alimentos do Instituto Adolfo Lutz.
Leonardo Pillon, advogado do Instituto de Defesa de Consumidores (Idec), destaca que a fiscalização rigorosa dos órgãos reguladores, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é essencial para garantir a segurança alimentar, e a população pode contribuir denunciando rótulos enganosos. O Idec, por exemplo, realiza análises e denúncias de produtos com informações falsas ou abusivas. Também é possível denunciar ao Procon e ao ministério.
Mas Pillon faz uma ressalva: a preocupação com fraudes não deve inibir o consumo de alimentos in natura. Esses são os alimentos obtidos de plantas ou animais, sofrendo alterações mínimas na indústria, como moagem e secagem. Eles são amplamente reconhecidos como saudáveis e recomendados como prioritários na alimentação.
Estadão Conteúdo