A Unidade Central de Agentes Terapêuticos (Unicat) em Natal registra a falta de 86 medicamentos, o equivalente a 40,1% de um total de 214 remédios ofertados. Sem assistência, a população sente os impactos, sejam eles no bolso – para aqueles que podem arcar com os custos – ou na própria saúde. De acordo com a agricultora Raimunda Balbino, de João Câmara, já são três meses sem que ela consiga pegar hidroxiureia para as duas filhas, diagnosticadas com anemia falciforme. Sem o medicamento, uma das meninas precisou ser levada ao Hemonorte na semana passada para tomar sangue. Nesta segunda-feira (11), a agricultora retornou à Unicat na esperança de pegar o remédio, mas voltou para casa de mãos vazias.
“Mês passado consegui comprar uma caixa com 100 comprimidos para as duas, mas é insuficiente porque cada uma toma dois comprimidos por dia, então, seriam necessárias 120 pílulas. A caixa custou R$ 300. Além de ser caro, é difícil encontrar nas farmácias”, relata Balbino. A técnica de enfermagem Priscila Domingues precisou dos serviços da Unicat pela primeira vez e, de cara, já se deparou com a falta do medicamento mesalazina, que a mãe deverá utilizar por conta de um problema no intestino. “Estou muito preocupada porque minha mãe está com sangramento”, relata.
A técnica de enfermagem disse que nenhuma perspectiva de chegada foi informada, o que preocupa ainda mais. “Disseram que acabou na sexta-feira (8) e ninguém sabe quando chega. Vamos precisar esperar, porque é dose mínima, muito caro e bem difícil de encontrar em farmácia”, comentou Domingues. Já Cristina Faustino saiu da Unicat sem quetiapina, remédio que ela usa para o controle da esquizofrenia. “Não sei o que fazer. Vou contar a situação para a minha mãe, porque não tenho nenhuma fonte de renda. Não consigo comprar. Sempre ouvi falar muito da falta de medicamento, mas é a primeira vez que me deparo com isso”, conta.
Welisso Felix, de 36 anos, é transplantado há 20 anos. Em função disso, ele usou ciclosporina por algum tempo, mas diante da falta constante da droga, o médico substituiu o remédio. “Ficava muito sem medicamento por conta da falta aqui na Unicat. Fui ao médico e ele trocou pelo tacrolimo, que eu consegui pegar hoje. Eu tomava ciclosporina de 50 e 100 mg, mas os dois estavam sempre faltando”, afirma. De acordo com a lista disponibilizada no site da Unicat, a ciclosporina (de 25, 50 e 100 mg) está em processo de licitação.
Esta é a situação de 58 dos 86 remédios em falta. Outros 26 aguardam distribuição do Ministério da Saúde, além de dois que estão suspensos. Os medicamentos citados na reportagem, além da ciclosporina, estão na seguinte situação: hidroxiureia e mesalazina (em licitação) e quetiapina (aguarda distribuição do Ministério da Saúde). A reportagem procurou a Secretaria de Estado da Saúde Pública para pedir esclarecimentos sobre a falta dos remédios, mas não houve retorno até o fechamento desta edição.
Tribuna do Norte